segunda-feira, 29 de março de 2021

[Análise]: Alemanha pode estar caminhando para uma cisma com Roma



Em uma coluna publicada na CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI, o autor Thorsten Paprotny, doutor em filosofia e estudioso da obra de Joseph Ratzinger, aponta que a Igreja na Alemanha poderia estar caminhando para uma ruptura com Roma, ainda que este rompimento não implique a formação de uma igreja à parte, como foi o caso do cisma de Lutero, mas na configuração de uma Igreja na Alemanha que vive sistematicamente de costas para Roma e longe da comunhão com o Romano Pontífice.   



Segundo o autor, a recente resposta da Congregação para a Doutrina da Fé – com consentimento do Papa Francisco- à dúvida sobre a possibilidade de que a Igreja abençoe casais homossexuais que desejam viver juntos foi “um catalisador” desta situação de ruptura.
Paprotny recorda que em uma entrevista, o presidente do episcopado alemão Dom Georg Bätzing disse que “muitas pessoas sentiram -se feridas pela Igreja e ficaram indignadas” e que “o documento de Roma de 15 de março reflete a conhecida posição da doutrina. 



No entanto, não poderá contar com aceitação e conformidade na Alemanha. Um documento que, em seu raciocínio, tão descaradamente se fecha ao progresso do conhecimento de natureza teológica e humana-científica, levará a que a prática pastoral seja ignorada".
Bätzing promove um "desenvolvimento adicional" da doutrina da igreja, alerta Dr. Paprotny, que afirma que o "progresso do conhecimento" não implica que a doutrina da Igreja tenha se tornado obsoleta e deva portanto mudar.



Bätzing afirmou ainda: "Não há dúvida de que permaneceremos em contato com a Igreja universal no Caminho Sinodal. De Roma, no entanto, peço também respeito pela seriedade do nosso exame de questões importantes que enfrentamos na situação pastoral aqui."
“Roma é desrespeitosa com as igrejas locais? Eu não acho. Talvez alguns católicos também não tenham reverência nem respeito por Roma”, diz o catedrático alemão que também afirma que “não é de surpreender que alguns críticos e céticos do Caminho Sinodal” estejam mostrando resistência a esta diretriz.



A crítica do Professor Paprotny vai na linha de que os bispos alemães que lideram o Caminho Sinodal, acreditam que Roma perdeu o contato e a aproximação pastoral à realidade dos católicos alemães e portanto, eles, pastores da Igreja local saberão melhor o que fazer para. O intelectual destaca que isto leva a trair o conceito da “comunhão”, pois não só passa haver ruptura entre a diretriz de Roma e a prática dos bispos alemães, como também diferenças entre os próprios bispos.



Alguns ícones desta dissonância entre bispos de igrejas locais com os bispos do Caminho Sinodal são o Cardeal Rainer Maria Woelki, de Colônia, e o Bispo Rudolf Voderholzer, de Regensburg, que declararam-se explicitamente comprometidos com o ensino permanente da Igreja e saudaram as palavras esclarecedoras de Roma, ao mesmo tempo em que enfatizaram a necessidade de estar pastoralmente presente, abertos e responsivos a todas as pessoas.
O jornal "Bonner Generalanzeiger" informou em 23 de março de 2021 que o arcebispo de Colônia "continuaria a trabalhar" para "tratar os seres humanos com respeito, dignidade e apreço, independentemente da sua orientação sexual" e que continua sendo “uma tarefa da Igreja” a atenção pastoral aos fiéis com atração pelo mesmo sexo.



Isto, explica o Professor Paprotny, está em consonância com o pensamento do Papa Francisco e da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé: "A declaração de inadmissibilidade das bênçãos das uniões entre pessoas do mesmo sexo não é, portanto, discriminação injusta nem contém a intenção de ser uma, mas lembra a verdade do rito litúrgico que está profundamente conectado com a natureza dos sacramentos, como a Igreja os entende”.
“A comunidade cristã e os pastores locais são chamados a acolher pessoas com tendências homossexuais com respeito e tato; eles saberão como encontrar as formas mais apropriadas de proclamar o evangelho em sua plenitude, de acordo com a doutrina de sempre. Ao mesmo tempo, essas pessoas podem reconhecer a proximidade sincera da Igreja — que ora por elas, as acompanha, e compartilha com elas o caminho da fé cristã — e aceitar seus ensinamentos com vontade sincera”.



Thorsten Paprotny  defende ainda que a resposta ao dubium, não exclui que a Igreja possa dar a bênção a um indivíduo com inclinações homossexuais que expressa a vontade de viver em fidelidade aos planos revelados de Deus tal como apresentados na doutrina; o que o responsum declara, no entanto, é que qualquer forma de bênção que tende a legitimar estas uniões é inadmissível, pois a Igreja abençoa o pecador, mas nunca o pecado.
Criticando a forma que Católicos na Alemanha têm politizado o tema, o Professor Paprotny convida a ir ao essencial e lembra as palavras do Papa Francisco, que advertiu que não se pode instrumentalizar a doutrina, em concreto os ensinamentos do Concílio Vaticano II que propôs um “aggiornamento” do ensino, ou seja, uma atualização da doutrina da Igreja, não uma ruptura com a mesma.



Quem queira romper com a doutrina dando como desculpa a implementação dos ensinamentos do Vaticano II na verdade está fraccionando a própria Igreja, e parece ser isto, que de certa forma, está ocorrendo na Alemanha segundo a análise de Thorsten Paprotny.
“Os bispos, como todos os cristãos do mundo, permanecem chamados a permanecer fiéis ao evangelho de Jesus Cristo, ao credo e à doutrina da Igreja. Quer gostemos pessoalmente ou não, a situação é tal como Santo Ambrósio ensinou: "Ubi Petrus, ibi eclesia (= Onde está o Papa, ali está a Igreja)", conclui Paprotny.

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