domingo, 2 de maio de 2021

A incrível história de Régis Pitbull, da fama em Corinthians e Vasco à luta para se livrar do Crack



Este deveria ser o relato de uma reportagem, mas ela acabou virando um programa especial de quase uma hora de duração. Muito porque o assunto não é nada comum no noticiário do dia a dia, muito menos dentro da mídia esportiva.

A dependência química na vida de um jogador de futebol, ou na vida de qualquer ser humano, é sempre um drama que atinge diretamente o indivíduo e, por consequência, seus familiares.



Régis Fernandes da Silva, mais conhecido como Régis Pitbull, é um personagem do mundo da bola que há tempos estava sobre o meu radar, nos meus pensamentos e nas minhas pautas.

Mas, ao contrário do que estamos acostumados a ver nesse tipo de reportagem, a intenção não era apenas entrevistá-lo, o que já seria muito difícil, ainda mais para uma reportagem para a televisão. Eu queria entender como estava a situação do jogador, olhar o lado humano de um cara que ganhou muito dinheiro, ficou famoso e gastou tudo, absolutamente tudo, com o maldito crack.



O caso é delicado, pois mexe na intimidade de um cara público, conhecido por muita gente do universo do futebol.

Nessas horas carrego comigo a lição de um treinador amazonense, Aderbal Lana. Certa vez ele me recebeu em Manaus para falar sobre os desmandos do dinheiro público que seriam aplicados de forma irresponsável e corrupta na cidade, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.

Na oportunidade, ele foi mais certeiro que um cruzado de um peso pesado do boxe.

“Beleza, Marcelo. Você quer que eu fale tudo, né? Daí você sai daqui, vai embora pra São Paulo com um baita depoimento, cheio de denúncias e fico eu aqui, no Norte do país, sendo perseguido por capangas. Se você acha isso justo, vamos lá, pode começar a gravar”.



O diálogo aconteceu em 2011 e nunca mais saiu da minha cabeça. Afinal, no jornalismo lidamos, além da informação, com vidas, e elas precisam ser sempre protegidas.

Em 2019, li uma reportagem sobre o caso Régis Pitbull que muito me lembrou a lição de Aderbal.

A matéria, muito bem escrita, revelava o lado mais doentio e obscuro do ex-jogador do Corinthians e de outros tantos clubes no terrível mundo da dependência química. Naquela entrevista, ele contava detalhadamente o vício em crack.



Belíssima matéria. Mas ninguém, absolutamente ninguém, entrou nesse caso para tentar ajudar um cara que, no fim das contas, está mais doente do que imagina qualquer jornalista, por mais experiente que seja.

Levei a ideia à chefia de reportagem e, claro, num assunto tabu como este, ninguém rejeitou. Então, fui à luta, sem ter o mínimo de ideia do que encontraria pela frente, nem como Régis Pitbull reagiria à tentativa de entrevista...



Primeiro contato não é o que fica

Convencer um ex-jogador, famoso, a dar uma entrevista não é tarefa das mais fáceis, ainda mais se tiver dependência química na história.

Régis Pitbull vive esse drama, o do vício em crack, há pelo menos 15 anos. Com a maconha e o álcool, a história é mais longa, desde a adolescência, quando tentava a vida dentro do futebol, passando por vários clubes do Brasil.

Aliás, no Bahia e no Vitória ele foi dispensado depois que membros de ambos os clubes o flagraram fumando maconha.




A informação que tinha era de que ele circulava pelas nas ruas do bairro de Pirituba, na Zona Norte de São Paulo.

Para encontrá-lo, contei com a ajuda de dois símbolos do futebol de várzea da capital: o jornalista Marcelo Mendez, da TVila Sports, e o empreendedor da várzea, Sérgio Pioneer.

Achei que nem telefone Régis tinha. Ledo engano, pois ele me atendeu logo na primeira chamada. Assustado, falamos por uns 30 minutos. Ele me disse que, por causa da pandemia, estava sem trabalho no Liderança, clube de várzea, onde alguns amigos ainda tentavam ajudá-lo.



Entusiasmado com a “conquista”, marquei um encontro no dia seguinte. Disse que iria com equipe de gravação, e ele respondeu que poderia vir, que ligasse assim que chegássemos próximo ao Shopping de Pirituba, perto de onde ele mora.

No jornalismo esportivo estamos acostumados a levar o chamado “caô”. Isso acontece muito. Por exemplo, o ex-atacante Viola, pelo menos comigo, é o campeão das promessas de entrevistas não cumpridas.

Chegamos em Pirituba ao meio-dia. Paramos numa padaria enquanto ligava incessantemente para o celular de Régis. No começo tocava sem atender. Depois, ele simplesmente desligou o aparelho, para meu desespero.



Diante desse imbróglio, resolvi sair com o cinegrafista Sidney da Matta à caça de Régis pelo bairro. Saímos perguntando em bares, pontos de táxi, enfim, saímos como loucos. Logo me passaram o telefone de Wagner, um policial militar recém-aposentado que já vinha sonhando com a recuperação do amigo há anos. Foi ele quem nos ajudou na nossa missão.

Wagner pediu para que eu procurasse o bar do Luizinho, onde Régis sempre passava lá para comer ou pedir uns trocados.

Daí em diante, mesmo sem ter noção, começava a se formar uma rede de pessoas imbuídas em ajudar a salvar a vida de Régis.



Depois de três horas e meia na rua atrás de Régis, finalmente chegamos ao boteco do Luizinho.

Lá, os dois disseram que o nosso entrevistado tinha acabado de passar. Luizinho sugeriu que fôssemos a pé dois quarteirões acima, pois lá ele poderia estar na rua tomando conta de carros, tudo para receber alguns trocados.

Dito e feito. Chegamos ao local, mas nossa abordagem, em vez de ajudar, foi completamente equivocada.

Régis ficou furioso com a gente assim que viu o cinegrafista chegando perto.

Eu imaginava estar fazendo uma surpresa, mas, na cabeça de uma pessoa que está doente por causa do constante uso de drogas, foi ofensivo. Régis Pitbull não reagiu nada bem com aquele primeiro contato.



Com o filme completamente queimado com o entrevistado, só me restou voltar ao bar do Luizinho e tentar fazer uma entrevista com o amigo de bairro, que pouco quis falar da verdadeira situação do ex-jogador mais famoso da quebrada.

Luizinho não contou detalhes, mas José Ildo Gomes, 62, sim.

No bar, o comerciante tentou fazer com que Régis nos recebesse para a tal entrevista. O máximo que ele conseguiu foi armar com o ex-atacante para que ele jogasse uma partida em Embu das Artes, região metropolitana, num sábado cedo, duas semanas depois.



Um craque em ação

O jogo pelo Liderança de Pirituba era a chance da nossa equipe registrar Régis Pitbull em ação.

A primeira torcida era para que ele acordasse às 6h, horário que o amigo José Ildo combinou buscá-lo. O sucesso de uma boa conversa com um dependente químico depende de vários fatores.

Se ele está bem, se não sumiu e passou dias fumando crack, se comeu, se descansou, enfim, gravar com um sujeito numa situação dessa é praticamente jogar para ganhar na loteria.



O jogo estava marcado para as 8h30 de um sábado.

Ficamos posicionados com a câmera para registrar o jogo bem à distância e não chamar a atenção. De repente, chegou um carro preto. Era o carro de José Ildo, dirigido por Régis.

E assim que ele desce do carro, vários jogadores do time adversário se aproximam para tirar uma foto com um cara famoso pelos tempos de Corinthians, Ponte Preta, Portuguesa, entre outros clubes, que já pisaram naquele campo, ainda de terrão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vem ai a 1ª Copa União de Futebol Tambaú de Custódia-PE

Os amantes do futebol custodiense, aguardavam ansiosos por esta noticia, no último dia 20/03, foi realizado na Escola Manoel Rod...