Cuba Culpa o Embargo
Cuba classifica 619 medicamentos como básicos, dos quais 359 são produzidos na BioCubaFarma, empresa estatal de biotecnologia. "Em 2021 estamos ficando sem suprimentos e matérias-primas e a média mensal de faltas é de 120 medicamentos", reconheceu a vice-presidente da BioCubaFarma, Tania Urquiza, em uma entrevista recente. Urquiza responsabilizou o embargo financeiro e comercial dos Estados Unidos pela situação, uma vez que encarece a aquisição de medicamentos, tecnologias, matérias-primas e equipamentos, dificulta transações com terceiros países e o acesso a financiamentos externos para pesquisa e desenvolvimento, entre outros prejuízos.
"Tudo isso em meio a uma crise econômica internacional, onde a indústria e a logística globais entraram em colapso, dificultando o transporte para Cuba de todos os insumos e matérias-primas necessárias para pesquisar e produzir medicamentos e vacinas", argumentou. Ao ser consultada pela Efe, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) referiu-se à pandemia como a principal causa do problema da falta de medicamentos em Cuba. "A maior parte das matérias-primas, peças de reposição e outros componentes necessários à produção de medicamentos vem da região asiática, fortemente impactada pela pandemia de Covid-19. Essa situação tem gerado atrasos na chegada desses bens, tanto pelos problemas da redução da produção nesses países como pela interrupção do transporte aéreo e marítimo", declarou a organização.
Além disso, Cuba está atolada em sua maior crise econômica em mais de duas décadas, com um forte déficit na balança de pagamentos e sem condições de fazer frente à sua dívida externa, o que se traduz em escassez não só de medicamentos, mas também de quase todos os alimentos e produtos básicos.
Cooperação, Contrabando e a Providência
Uma das receitas para superar a escassez é a solidariedade. "Se eu tenho aspirina e um vizinho precisa, eu dou a ele e vice-versa. Nós nos ajudamos, porque por muitos motivos não temos as coisas de que precisamos. Agora vivemos assim", disse María. Além das trocas pessoais - existem grupos de WhatsApp e Telegram dedicados exclusivamente para o intercâmbio de medicamentos em Cuba -, existem redes colaborativas organizadas por emigrantes cubanos na Espanha ou nos EUA para coletar medicamentos e enviá-los por meio de indivíduos nos poucos voos que operam para a ilha.
Em um desses voos, a insulina e as tiras de teste de glicose chegaram para o marido e o filho diabéticos de Nuria, uma trabalhadora autônoma de 44 anos. Menos altruístas são outros métodos, como o contrabando. Uma caixa de paracetamol, um antibiótico, um anticoagulante ou um tubo de creme antifúngico podem ser vendidos por um preço até dez vezes mais caro que o original em grupos do Facebook ou sites de vendas. Se os métodos acima falharem, apenas a providência permanece. É o caso de Nuria, que já considerava impossível encontrar Carbidopa + Levodopa para a mãe que sofre com Parkinson. "Fazia um ano e meio que não achávamos esse remédio. No fim, conseguimos encontrá-lo há um mês, porque faleceu o parente de um amigo que sofria de Parkinson e tinha muitas reservas", contou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário